A Medicina do Sono, como é conhecida hoje, não começou como uma medicina clínica, mas sim na vertente de investigação científica. O aspecto do sono mais antigo, considerado como marco da história do sono, recua ao século XIX, com Gelineau, e o reconhecimento de que a narcolepsia e a cataplexia estavam associadas a episódios súbitos de sono. No entanto, a maioria dos desenvolvimentos ao nível do sono que serviram de alavanca para uma medicina prática, mesmo na vertente dentária, só ocorreram a partir dos anos 50 do século passado. Todos nós que trabalhamos na área da medicina do sono reconhecemos que o estado de conhecimento desta área só agora deu os primeiros passos, e ainda há muito que percorrer no caminho do conhecimento científico e da aplicação clínica e social.

Em termos clínicos, o diagnóstico é muitas vezes um desafio, porque os doentes desvalorizam um pouco as queixas noturnas e diurnas, não as verbalizando junto do médico, ou porque o clínico descura a abordagem do sono e dos seus hábitos. Adicionalmente, os distúrbios do sono podem ter uma gênese partilhada com outras doenças, e as manifestações podem diferir com o gênero e até com a raça/etnia. Por outro lado, a complexidade, a morosidade e a difícil acessibilidade dos estudos do sono contribuem para um atraso, ainda maior, no diagnóstico. Após este, porém, a terapêutica pode também constituir um desafio, pois o processo é muitas vezes complexo, não curativo e com a necessidade de se manter durante a vida. Assim, é urgente que a comunidade clínica e científica atue em conjunto nestas áreas, simplificando o processo clínico, pois os distúrbios do sono não tratados comportam mau prognóstico, alguns com considerável risco cardiovascular, neurológico e metabólico, no desempenho laboral e escolar, para além dos evidentes custos sociais e inerentes à sobreutilização de cuidados de saúde.

O livro Medicina Oral no Sono foi elegantemente elaborado por um painel luso-brasileiro de especialistas com renome na Ciência e na Medicina do Sono. Os autores convidam-nos a fazer uma viagem no conhecimento da Medicina do Sono aplicada às diversas especialidades que se focam na Medicina Oral, abordando aspectos de indiscutível relevância, como a história do sono enquanto ciência clínica, a fisiologia do sono, a abordagem clínica e terapêutica dos distúrbios do sono, com especial ênfase para o papel do dentista na Medicina do Sono. É interessante a sensibilidade para incluir um capítulo com casos clínicos que constitui, sem dúvida, uma integração de indubitável valor para a aplicação clínica da aprendizagem. Será, com certeza, uma ferramenta de trabalho indispensável para todos os que, dedicando-se à matéria que ocupa cerca de 1/3 da vida humana, poderão aprofundar-se no conhecimento e na prática da área médica do sono.

SUMÁRIO

Capítulo 1 – A Medicina Oral no Sono: Introdução
Capítulo 2 – Medicina Oral no Sono: Uma História
2.1. História da Odontologia do Sono no Mundo
2.2. Odontologia na Medicina do Sono no Brasil
2.3. Medicina Oral no Sono em Portugal
Capítulo 3 – Cronobiologia em Medicina Oral
3.1. O Relógio Biológico e o Tempo Interno
3.2. Cronobiologia Clínica, Cronomedicina e Medicina Oral
Capítulo 4 – Sono Fisiológico: Saúde e Sociedade
4.1. Definições e Funções do Sono
4.2. Ontogenia do Sono
4.3. Sono, Coração e Metabolismo
4.4. Sono e Função Autonômica na Saúde e na Doença
4.5. Sono, Ambiente e Qualidade do Ar
4.6. Alimentação, Nutrição e Sono
4.7. Tabaco e Sono
Capítulo 5 – Clínica e Terapêutica em Medicina Oral no Sono
5.1. Insônia
5.2. Distúrbios Respiratórios do Sono
5.3. Hipersonias de Origem Central
5.4. Parassonias
5.5. Distúrbios dos Ciclos Circadianos
5.6. Distúrbios do Movimento Relacionados ao Sono
5.7. Melatonina na Clínica Diária do Sono
Capítulo 6 – Abordagem do Paciente com Distúrbios do Sono
6.1. Primeira Consulta de Sono: da Suspeita ao Processo de Diagnóstico
6.2. Abordagem Pediátrica: Aspectos Particulares na Criança e no Adolescente
6.3. Exames Complementares
6.3.1. Polissonografia e Outros Estudos Laboratoriais do Sono
6.3.2. Actimetria
6.3.3. Sistemas de Monitoramento Simplificado no Rastreamento de Patologia do Sono
6.3.4. Avaliação Autonômica no Estudo do Sono
6.3.5. Diários, Escalas e Questionários
6.3.6. Processo de Titulação do CPAP
Capítulo 7 – Sono e Dor
7.1. Neurofisiologia da Dor
7.2. Sono, Dor e Prognóstico em Patologia e Cirurgia Oral
7.3. Sono, Dor Orofacial e Disfunção Temporomandibular
7.4. Sono e Cefaleias
Capítulo 8 – Tratamento em Medicina Oral do Sono
8.1. Fatores de Risco para Apneia Obstrutiva do Sono
8.2. Sono e Doença Periodontal
8.3. Tipos de Aparelhos Intraorais em Adultos
8.4. Indicações e Contraindicações do Aparelho Intraoral para Tratamento da AOS
8.5. Preditores de Sucesso no Tratamento com Aparelhos Intraorais
8.6. Protocolo de Titulação dos Aparelhos Intraorais
8.7. Tomada de Registros Clínicos para Confecção de Aparelho Intraoral
8.8. Odontologia na Medicina do Sono em Paciente com Deficiência
8.9. Seguimento de Pacientes na Odontologia do Sono
8.10. Efeitos Colaterais e Adversos dos Aparelhos Intraorais
8.11. Abordagem Ortopédica e Ortodôntica na Criança
8.12. Protocolo do Tratamento do Subdesenvolvimento dos Maxilares e da Via Aérea Superior nos DRS em Pré-escolares e Adolescentes com AIO
8.13. Controle e Tratamento do Bruxismo no Sono
8.14. Exames de Imagem na Apneia Obstrutiva do Sono
8.15. Cirurgia Ortognática nos Distúrbios Respiratórios do Sono
8.16. Laser em Medicina Oral do Sono
8.17. Recursos da Fonoaudiologia na Medicina do Sono
8.18. Impacto da Abordagem Odontoestomatológica dos Distúrbios Respiratórios do Sono na Performance e Produtividade Laboral
8.19. Aparelhos Intraorais para Prevenção de Acidentes de Trabalho em Pacientes com Apneia Obstrutiva do Sono
8.20. Evento com Aparente Risco para a Vida e Distúrbio Respiratório do Sono: Potencial Impacto da Abordagem sobre o Status Orofacial
8.21. Aspectos Otorrinolaringológicos Gerais
8.22. Cirurgias das Vias Aéreas Superiores no Tratamento dos Distúrbios Respiratórios do Sono
Capítulo 9 – Adesão Terapêutica em Medicina Oral no Sono
9.1. Adesão Terapêutica na Medicina do Sono
9.2. Terapia Cognitivo-comportamental no Tratamento com CPAP e Aparelhos Intraorais
Capítulo 10 – Casos Clínicos